sábado, 4 de junho de 2011

O Prensor (O Cruzeiro)

Ele recebeu este hino numa concentração lá na Vila Ivonete, mais ou menos pelo começo da década de 40. Aí, quando ele recebeu esse hino, tava no forte da concentração. Ele se levantou, colocou um irmão na presidência do trabalho e se retirou, chamou a esposa dele, a dona Raimunda, e pediu que ela me chamasse. Aí, ele cantou o hino todinho (...). Quando terminou a concentração ele cantou pra todo mundo ouvir, pra todo mundo aprender logo. Olhe, nessa época, foi na época de um conflito armado entre Bolívia e o Paraguai*. Mas tava nesse tempo um clamor, só se sabia das notícias. Do outro dia em diante que saiu esse hino, acalmou tudo, zerou tudo. Ele contou que no trabalho dele, ele foi espiritualmente lá, no meio da batalha. Diz ele, que era bala que chuvia assim, pra lá e pra cá, batia nele e caía. Ele tava lá espiritualmente, quando chegou o hino para controlar. A força dominar a rebeldia, que era demais (...). O que é certo meu filho, é que esta, é uma das representações que nós temos que mostrar, e vários hinos que tem aí, cada um trás uma referência.
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*A guerra entre Bolívia e Paraguai que ocorreu nesse período histórico descrito foi a guerra de fronteiras denominada Guerra del Chaco (1933-1935). No período descrito por dona Percília (anos 1940) eclode também a 2ª Guerra Mundial, que muita comoção provocou no mundo espiritual. 

Depoimento de Percília Matos da Silva, do livro Contos da lua Branca – Florestan Neto

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Hoje em dia pode ser difícil diferenciar os hinos "recebidos do Astral" dos hinos ditos "inventados", considerando-se talvez esses cânticos rituais mais como ferramentas humanas e menos como instruções divinas.

Eu pessoalmente tive oportunidade de "passar a limpo" meu próprio caderno de hinário com a Madrinha Percília, e além de algumas palavras que ela modificou, recebi a explicação de que os hinos de um hinário devem guardar entre si uma relação progressiva de aprendizagem pessoal, uma ordem ascendente, e portanto hinos que repassam abordagens anteriores da própria pessoa (entendimento este muito subliminar, talvez) devem ser descartados, ou esquecidos, não-cultivados. E ela mencionou que o próprio João Pereira, cujo hinário é um dos principais do Mestre, teve trinta hinos suprimidos por este quando passados a limpo.

O hinário da Madrinha Percília se resume a quinze hinos, o que nos faz lembrar que o da Madrinha Rita são apenas vinte e cinco, o da Madrinha Peregrina são onze, e nem por isso são hinários desimportantes ou pouco fundamentais. Em termos de conteúdo, quanto aos hinários, às vezes "menos" hinos falam "mais", ou proporcionam melhor resultado prático, do que ser responsável por um conjunto de muitos hinos. Essa economia da expressão, entretanto, parece ser pouco observada na atualidade, quando sabemos há indivíduos que possuem várias centenas de hinos (às vezes até subdivididos em vários cadernos). No tempo do Mestre, e isso não quer dizer que em um "tempo atrasado" ou uma "época de vacas magras", receber um hino era não apenas uma responsabilidade espiritual mas também uma prova, e os que se diziam donos de hinos eram provados no Daime, sendo chamados pelo Mestre para puxarem e bailarem seus respectivos hinários "na força" dessa comunhão, sem cadernos de apoio, tirando apenas do âmago de sua alma a memória, a harmonia e o ritmo dos hinos, o que não dava margem à permanência de hinos "inventados" na irmandade. Quanto alguém passava pelo "vexame" de não conseguir apresentar devidamente a letra de um hino que declarara haver recebido, essa "linha da verdade" mostrava o quanto o desprendimento e a humildade são requisitos naturais do aprendizado espiritual, e atitudes de avidez, orgulho ou auto-promoção através dos hinos são pouco recomendáveis por induzirem (e em muitos casos conduzirem) ao erro ou à falsificação ideológica. O Daime é um misterioso professor que muitas vezes "dá corda para ferrar no anzol", por isso a grande preocupação dos antigos seguidores do Mestre em observar as recomendações que este deixou de viva voz. A própria Dona Percília se auto-questionava quanto aos seus hinos, como demonstra esse trecho de entrevista de Clodomir Monteiro com ela, a respeito do hino que a apresenta como Taio Ciris Midam:

Clodomir - Este hino a senhora recebeu dentro da miração?
Percília - Dentro da miração...eu estava com uma febre neste dia!...
Clodomir - E foi uma entidade que dizia para a senhora isto?
Percília - Eu ouvi, não vi, eu ouvi a música....e quando eu dei de mim eu já estava cantando.
Clodomir - Que a sra. era realmente esta entidade...
Percília - É...Taio Ciris Midam...
Clodomir - E todos no Alto Santo reconhecem que a senhora é realmente Ciris Midam...
Pedro - Pois o próprio Mestre registrou... passou a limpo o hino... seu Eu superior...
Percília - Sim, o meu Eu superior...então quer dizer que eu sou da mesma família...de Midam...né ?
Clodomir - Tá ligado a outra metade dele...
Percília - É...é isso aí.
Clodomir - É isso aí, um é Jura, outra é Midam, o masculino e o feminino...
Percília -Foi passado a limpo com o Mestre...


Eduardo Bayer (do website www.hinarios.blogspot.com)

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