sábado, 4 de junho de 2011

Puxante [termo ainda hoje usado no Alto Santo]

Contando com grande número de analfabetos e semi-analfabetos - incluindo-se aí o próprio Mestre Irineu - Percília Matos da Silva, criada por ele desde a infância, recebeu a função de anotar todos os hinos recebidos pelos neófitos em pequenos cadernos, em uma atividade conhecida como “zelar pelos hinos”. De acordo com seus próprios relatos, Percília teria grande facilidade na memorização dos cânticos e por isso era sempre chamada por Raimundo Irineu Serra e outros adeptos para acompanhá-los até algum lugar silencioso e vazio a fim de presenciar o nascimento espiritual dos hinos, isso nos casos do receptor ser previamente avisado por entidades sobrenaturais acerca do recebimento do novo cântico que estava por vir. Esse tipo de assessoria culminou com o recebimento da patente espiritual, “Taió Ciris Midam”, doada para Percília pelo Mestre em obediência à Rainha da Floresta.

Por esse mesmo motivo Percília também recebeu a tarefa de entoar os hinos na forma original como vinham sendo recebidos do astral, cantando a primeira estrofe dos mesmos antes da entrada de todas as vozes durante os rituais. Embora fosse e ainda seja uma satisfação e até mesmo uma obrigação de todos os participantes a prática do canto coletivo em uníssono, algumas mulheres começaram a se responsabilizar para que o canto saísse afinado e condizente com a forma original apresentada pelo receptor dos hinos. A quem ocupava esta função chamou-se “puxante”.


A natureza dos hinos na religião do Santo Daime - Lucas Kastrup Fonseca Rehen 

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