SANTO DAIME: UM SACRAMENTO VIVO, UMA RELIGIÃO EM FORMAÇÃO – Tese de Doutorado - Isabela Oliveira.
Os outros hinos (...) recebidos pelos adeptos são percebidos como mensagens que se relacionam com esse núcleo doutrinário original e são também legitimados por meio das instruções presentes no hinário “O Cruzeiro”. Ilustrando esse tema, temos a história de vida do Sr. Wilson Carneiro, uma das pessoas que recebeu do Mestre Irineu a missão de distribuir o Daime para os doentes na própria casa, que se tornou, na compreensão dos seguidores desse tipo de atividade, um Pronto-socorro espiritual. Por meio de diversas curas alcançadas pelos doentes nos atendimentos prestados pelo Sr. Wilson, ele ficou bastante conhecido como grande curador. Segundo ele, no início desses trabalhos, ele não cantava hinos, apenas oferecia o Daime ao doente. No entanto, com o passar do tempo, passou a cantar os hinos da Irmã Maria Marques Vieira, conhecida como Maria Damião, contemporânea do Sr. Irineu. Quando ficou sabendo do ocorrido, a Sra. Percília Matos ofereceu a seguinte explicação, que contribui para a compreensão da importância simbólica dos hinos de “O Cruzeiro” no contexto da religião. Disse a Sra. Percília para o Sr. Wilson: [103]
“Olhe, o Senhor pegou pela ponta da rama (referindo-se ao fato de ele estar cantando os hinos da Sra. Maria Marques) A gente tem que começar pela haste, porque a haste é “O Cruzeiro”, depois vem a primeira rama que é o Germano, a segunda rama. Primeiro é a haste, depois Germano, depois Antônio Gomes, depois João Pereira. O quinto, é a Maria Marques que tá lá na ponta da rama, que foi onde o senhor pegou. O senhor se pegou na ponta da rama.”
Por meio desse relato fica clara a importância do conhecimento presente no hinário do Sr. Irineu para os seguidores da religião. Ele é o tronco. Os outros hinários são os galhos, ou até mesmo as folhas árvore, quando pensamos nos hinários mais recentes.
[103] Na época dessa pesquisa o Sr. Wilson já havia falecido. A narrativa aqui apresentada foi coletada pela antropóloga Geovânia Barros da Cunha em 1993 e me foi gentilmente cedida por ela, de seu arquivo pessoal, para constar nessa tese.
O Cruzeiro Universal
Segundo a Sra. Percília Matos da Silva, zeladora do hinário do Sr. Irineu, o título deixado por ele para o seu hinário foi “O Cruzeiro”. No entanto, com o passar do tempo, mediante o diálogo, especialmente, com os próprios hinos do fundador, formou-se a compreensão de que esse hinário também poderia ser chamado de “Cruzeiro Universal”, expressão presente, por exemplo, no próprio hinário do Sr. Irineu, no hino 97, intitulado “Centenário”, que diz: “(...) Completei um centenário, no Cruzeiro universal...”. Também, observei em minha vivência na religião, o hinário o “O Cruzeiro” ser chamado de “Santo Cruzeiro”, expressão que remete à compreensão compartilhada entre os seguidores de que os hinos deixados pelo fundador são santos, o que mais uma vez, exemplifica o amplo processo de ressignificação presente na constituição de diferentes significados do Santo Daime.
Segundo a Sra. Percília Matos da Silva, zeladora do hinário do Sr. Irineu, o título deixado por ele para o seu hinário foi “O Cruzeiro”. No entanto, com o passar do tempo, mediante o diálogo, especialmente, com os próprios hinos do fundador, formou-se a compreensão de que esse hinário também poderia ser chamado de “Cruzeiro Universal”, expressão presente, por exemplo, no próprio hinário do Sr. Irineu, no hino 97, intitulado “Centenário”, que diz: “(...) Completei um centenário, no Cruzeiro universal...”. Também, observei em minha vivência na religião, o hinário o “O Cruzeiro” ser chamado de “Santo Cruzeiro”, expressão que remete à compreensão compartilhada entre os seguidores de que os hinos deixados pelo fundador são santos, o que mais uma vez, exemplifica o amplo processo de ressignificação presente na constituição de diferentes significados do Santo Daime.
SANTO DAIME: UM SACRAMENTO VIVO, UMA RELIGIÃO EM FORMAÇÃO – Tese de Doutorado - Isabela Oliveira.
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